domingo, 9 de março de 2008

Meu pai

Agora está tudo menos alegre.

Meu pai não está mais por aqui, agora ele se foi para um lugar bem melhor, e mesmo assim o egoísmo humano me faz sentir uma saudade enorme, e uma tristeza que insiste em aparecer.

É tão estranho ter que me referir ao meu pai com o verbo no passado. Mesmo ele não estando por perto, tenho certeza que ele está próximo.

Nessa vida ele foi antes de tudo um lutador, um guerreiro.

Nasceu em São João do Paraíso, MG, aos 03/09/1939. Foi para o Estado de São Paulo ainda criança, porém com atitudes de adulto. Aos 13 anos já trabalhava pesado, e foi trabalhando muito que fez sua vida, construiu minha família.

Trabalho à parte, ele adora a vida. Gostava de amigos, de receber em casa, de fazer brincadeiras com as pessoas, de inventar apelidos inesquecíveis. Como ele tinha uma dificuldade para lembrar nomes, então ele, muito sabiamente usava de apelidos genéricos, e que serviam tanto para homens como mulheres. Há tempos atrás era “Bagaço” usado mais para seus colegas de trabalho na Usina Bonfim. Depois veio o inesquecível “Potência”. Ele sempre dizia “é uma verdadeira Potência!”. E foi assim, dessa maneira, que trabalhou no Bar O Amarelinho junto com meu irmão Nato, por mais de 20 anos.

Agora em qualquer canto de nossas vidas ele faz falta, muita falta.

A qualquer hora que se pára para lembrar vêm episódios bonitos, boas lembranças.

Meu pai sempre teve paciência, lembro-me na infância que ele dividia pacientemente o miolo da cabeça da galinha em 5 pedaços, um para cada filho.

Também na infância ele sempre voltava para casa com alguma guloseima: chocolate (os deliciosos cigarrinhos da Pan), sorvetes, uvas passas em caixinhas...

Além de doces ele também trazia churrasco de frango da Usina. Quando ele trabalhava na Usina, havia, no período da safra, a mudança dos turnos, e eu gostava muito quando ele trabalhava à noite. Sempre que estava no período da noite ele fazia um “churrasquinho” lá dentro da Usina. Minha mãe preparava o frango (coxa e sobrecoxa) e ele “assava” nos canos de alta pressão lá na Usina, e assim deixava o trabalho pesado um pouco mais leve. E claro, além de comer com os amigos, trazia ainda um pouco do churrasco para casa, assim eu o esperava de manhã, para logo cedo comer churrasco, e depois voltava para a cama para dormir mais um pouco com meu pai (depois de ter dormido a noite toda com minha mãe).

Meu pai sempre foi muito religioso, devoto de Nossa Senhora Aparecida, porém ele não era muito de missa não. E, infelizmente acho que eu tive um pouco de culpa nisso. Quando eu era criança ele sempre ia com minha mãe, porém eu era a dorminhoca em vida, e assim, lá ia meu pai me carregando em missas, procissões, até que ele cansou...

Ele foi uma pessoa tão simples, gostava de coisas comuns, uma cerveja, estar com todos de casa juntos, comemorar aniversários, observar a chuva cair. Como ele adorava a chuva!

A ausência física é difícil de assimilar, mas as boas lembranças povoam minha mente o tempo todo.

Toda vez que me lembro dele, lembro de coisas boas, de quão bom pai ele foi.

Saudades,

Li, sua negona.