Há pouco mais de 10 anos tive a certeza de que o amor me levaria para outros ares.
Final de 2002, mais precisamente numa noite de 12 de dezembro fui para um forró pra lá de especial, uma noite que mudaria o rumo da minha para sempre, e para melhor devo dizer. Viver ao lado de quem se ama é sempre melhor, criar família e tudo o mais.
Bom, mas voltando ao fato, é que poucos dias depois, meu marido me abordou com a questão: "olha tenho uma coisa para lhe dizer, como sabe sou de Recife, e é para lá que eu vou depois do doutorado, e aí, ainda sim, vai encarar?"
Não titubei no sim, nem nesse dia, nem no casamento.
Esse sim se renova a cada dia, a cada conquista da gente, a cada fase ruim.
Nesses anos fomos criando uma família e ela já é maior que nós.
Viver isso tudo é maravilhoso.
No entanto o mundo ultrapassa, em longe, os limites do nosso lar. Somos 4 e somos muito mais. Nossas histórias dependem de muitas outras pessoas, e, a cada amizade, nossa teia de vida se fortalece e cresce para o infinito e além...
Mas sempre há o porto seguro, a casa da mãe, a pasárgada.
Tenho o privilégio de contar com sogros amigos, amados e presentes, mas mesmo sendo "minha mãe loira", a minha mãe de verdade mora a exatos 2564Km de distância, e isso é tempo...
E, finalmente depois de passar o maior período sem voltar a casa da minha mãe, voltarei (com a trupe toda!) nessa segunda feira.
Nesse tempo todo a vida tem me ensinado muitas coisas. Vou tentar enumerá-las:
- Narciso acha feio o que não é espelho. Viva Caetano! Isso é super mega hiper aplicável a mim. Isso é algo que procuro mudar, mas quando vejo, já fiz. Claro gosto de morar aqui em Recife e já me adaptei, porém é inegável as diferenças culturais. Vou me ater basicamente na gastronomia. Logo que cheguei achei um horror tapioca, cuscuz, feijão verde, arrumadinho, buchada, galinha de cabidela... A lista é grandinha. Porém, aos poucos, com muita paciência do meu marido e também uma oferta grande, fui cedendo. Continuo sem gostar de coentro, e acredito piamente que ele "piora" e muito, vários pratos que gosto como nas aves e saladas, porém vejo que nos peixes seu gosto se dilui melhor, ficando até discreto. Já o cuscuz me ganhou fácil, além de gostoso é fácil e rápido de fazer, e outra campeã é a tapioca. Essa o processo foi mais lento, e aprendi que "coco e queijo", misturando os de coalho e mussarela fica simplesmente maravilhosa. Além é claro, da mais que especial da Oficina Brennand: "tapioca de capuccino" essa é uma iguaria sem fim. Dessa forma, aqui em casa entrou na rotina: "cozido", bolo de rolo (esse eu nunca tive problema algum!), jerimum no feijão, feijão verde, arrumadinho, tapioca, mas quanto a galinha de cabidela, buchada e sarapatel eu passo a vez, prefiro os camarões e o meu preferido: siri mole!
- "A grama do vizinho é sempre mais verde...", mas se olhar bem, cada grama tem sua beleza! Pois é tem coisas incomparáveis. Não dá para querer comer um abacaxi doce, como o do parque da Jaqueira em Guariba assim como não dá para comer pêssego bom aqui em Recife, ponto!
- Sou uma estrangeira brasileira. Sim, com tanta distancia as variações linguísticas são inevitáveis, e eu tenho uma capacidade grande de assimilação e contaminação, sendo assim já não sou mais paulista, muito menos serei nordestina. Nem posso dizer que sou cidadã do mundo, pois tão pouco falo inglês snif snif... Basta abrir a boca e vem a sentença: nossa como você está falando! E minhas filhas. É bem interessante ver as diferenças entre elas; Maria Luiza é pernambucana até dizer basta, já Maria Helena que tem a veia de pesquisadora do pai faz muitos experimentalismos linguísticos Ela usa os vários tipos de R. Por exemplo se digo "meu amor" ela imediatamente repete com o R de Guariba, e em outros momentos usa naturalmente o R daqui de Recife.
- Morar na capital tem muitas opções de laser e cultura, porém afasta a todos e eu gosto de gente, de criar e manter vínculos, e tenho uma essência mais que interiorana, tenho uma essência colonial. Meus primeiros 10 anos foram em colônias de trabalhadores de usina de açúcar e álcool Nessa época frequentar as casas, correr sem medo, rezar o terço durante o mês de maio cada dia em uma casa, eram hábitos naturais. Para mim, os vínculos são necessários. Na cidade grande isso é um desafio e um esforço grande, pois todos nós, além das nossas ocupações, estamos sempre driblando as confusões de trânsito e tempo. Uma pena... Mas eu não desisto, eu tenho fé nos encontros, nas amizades nos vínculos e não é a toa que, desde que estou aqui em Recife, lá estou indo novamente para o interior de São Paulo com a missão de reunir, pela segunda vez, minhas amadas amigas dos tempos de Marília, época em que cursei e me formei em Fonoaudiologia em 1997!
Entre tanto a fazer devo me dedicar agora entre arrumar malas e preenche-las com amor, sabores e saberes desse tempo de espera.
Guariba a aí vou eu!
Lidiane, 26 de abril